quinta-feira, 26 de março de 2009

Incômoda divisão




Hoje é quinta-feira, e já não estou me agüentando mais. Estou sendo um pé no meu próprio calo. É como se usasse o esquerdo para pisar no direito ou vice-versa. Como se usasse a mão direita para beliscar a esquerda; como se o olho direito fizesse um olhar suspeito para o esquerdo; como se o ouvido esquerdo se negasse a escutar e deixasse todo o trabalho para o lado direito; como se metade do cérebro se negasse a pensar; como se eu estivesse respirando apenas metade do ar necessário ao meu corpo devido à greve feita por um dos pulmões que, não obstante, insiste em não se manifestar; como se meus rins estivessem em litígio e um deles decretasse cessação temporária só por birra; como se um dos glóbulos brancos chamasse um dos vermelhos de “vermelho!!!” por puro racismo, causando assim, rixa entre as duas comunidades; como se as pernas perdessem o compasso por que não ensaiaram; como se uma das vias nasais congestionasse a outra para reivindicar ao chefe que está trabalhando sozinha; como se os dedos de uma mão alongasse os outros de qualquer jeito só para vê-los sofrer de câimbra; como se meu corpo estivesse dividido.




Bom, diplomacia nunca foi meu forte. Então vou deixar que eles percebam o quanto essa guerra é ruim!!!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Descrição automática


De casa até a parada de ônibus, é possível, para ele, terminar três cigarros. São suficientes para observar inúmeras coreografias formadas pelas fumaças nicotínicas que têm como tela de fundo as nuvens cinzentas da grande São Paulo. Mais três cigarros servem de passatempo até chegar ao metrô. João desistiu de ir ônibus. Conseguiu visualizar a loira linda de sempre ocupando um assento preferencial para idosos, gestantes etc. “Mas hoje não é dia de dar em cima, nem com o olhar”.
Para João, dar em cima daquela loira, é secundário no dia de hoje. Ele só quer imitar um rosto desfalecido por uma doença qualquer e conquistar um atestado médico para voltar para casa e pensar numa boa e triunfante maneira de se suicidar.
Tanta monotonia está deixando-o paranóico, ele até pôs como nome no perfil do Orkut “João automático”, de tão repetitiva que é sua vida.
Ele já pensou em ser dançarino, professor de história, bibliotecário, prostituto e por aí vai.
Na verdade, João só queria vivenciar um predicado que lhe trouxesse um sentido, o que ele espera.
Bom, não havia médico no posto, então sem atestado, e “mais um dia funcionando no automático”, indignou-se. Ao chegar à repartição, deparou-se com uma pilha de processos, e outra pilha de demandas que iram demandar que ele segurasse qualquer lágrima que insistisse em tentar cair. Ele não queria demonstrar o profundo e infindável desespero para os demais.
Já não sorria, e as piadas improvisadas com ajuda de características físicas dos companheiros não soam mais de sua boca. Só: “Bom dia, boa tarde e tchau”, e isso ainda lhe é penoso de dizer.

O resto é monotonia, se eu continuar falando sobre João, sairá automaticamente.

terça-feira, 17 de março de 2009

Várias opções


Às vezes é bom viajar um pouco. Não precisa ter grana não. Dentro da mente pode-se ir a qualquer lugar e ser quem quiser. Podemos ir a um show do Pink Floyd, subir ao palco, disputar solos com David Gilmour e sair aplaudido até pelo próprio David; podemos visitar os bastidores de um super filme americano e quem sabe até virar protagonista; podemos ir até a casa da Grazi Massafera e conquistá-la apenas com um olhar sexy; podemos entrar na vida de Sigmund Freud e convence-lo a parar de fumar para que não morra de câncer; posso me tornar o melhor amigo do Roberto Marinho ao ponto de convence-lo a propagar uma cultura que ensine os brasileiros a utilizar de maneira sábia o acesso que têm à informação; podemos voltar à momentos em que cometemos erros, conserta-los e assistir tudo correr normalmente; podemos enriquecer e empobrecer num luxo de apenas um dia; podemos ajudar a quem sofre, acabar com a fome na África e com a guerra no Oriente Médio; podemos estar do lado dos nossos amigos e evitar aquela briga que um dia os separou de nós; podemos entrar numa loja, comprar a melhor guitarra e pendurar na conta do Abreu; podemos dar um volta naquele Bora 2.0 ouvindo Oásis, Switchfoot, Racionais etc; Ou podemos voltar à realidade.
Que droga, acabou a graça...