quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Falta de assunto


É impressionante como nos falta assunto na hora em que mais precisamos dele. Digo isto porque meu professor pediu-me uma crônica e não sei sobre o que falar, sobre qual tema dissertar e nem por onde começar.

Percebo nessas horas de aflição que a falta de inspiração é um mal que assola toda a comunidade de estudantes em todos os níveis. Isso mesmo, do fundamental ao superior falta-nos argumento justamente na hora “H”. Remonto-me aos tempos de menino quando a Tia pedia para a gente escrever sobre nossa família e nossos amiguinhos. Nossa! Como eram minutos difíceis! Parece que todo mundo era craque e todos os textos eram perfeitos e bonitinhos menos o meu.

Mas o martírio não para por aí. Logo depois vem o ensino fundamental onde a pré-adolescência bate à porta juntamente com novas idéias e a formação da mentalidade. Mas parece que nossa capacidade de compor um texto não corresponde à nossa formação mental, física e de caráter (não que isso tenha algo a ver com o tema (ou com a falta dele)). Não foram poucas as vezes que passei apuros entre uma mesa e uma cadeira para fazer uma redação sobre a falta de água no planeta, a violência no meu bairro ou a corrupção no Brasil. Donde concluo que eu havia crescido, mas não plenamente.

Mas pensando bem, não tenho certeza de que esse problema teria algo a ver com má formação em alguma de minhas faculdades mentais, pois, logo após a fase supracitada, entramos num período da vida onde a palavra “cobrança” nos acompanha onde quer que estejamos. É o ensino médio que, por natureza, nos remete a palavra vestibular. E é sem dúvida, uma fase na vida do jovem, onde essa cobrança ininterrupta forma uma camada de peso na consciência por ter que ser o melhor em testes didáticos e decidir logo o futuro. A essa nossa época cabem exemplos verídicos de pressão psicológica que nos fazem falhar na hora de escrever pra valer: são os vestibulares, concursos a torto e a direita e afins. A pressão de ter que ser o melhor nessas horas é, em alguns (muitos) casos, o motivo pelo qual não conseguimos por no papel nossas idéias de maneira clara ou às vezes o argumento nem nos vem à cabeça.

Pergunto-me, não sou um estudante de jornalismo? (eu mereço) É outra pressão. Os jornalistas não são aqueles cuja letra está em todo tempo na ponta da língua e do lápis? Não, não são. Pois, como todo ser humano, somos passíveis de erro, e de maus dias, nos quais não conseguimos assinar nem o próprio nome, quanto mais compor um texto, ou uma simples nota que seja. Uma crônica então, um texto cuja opinião do escritor é o que predomina, exige deste, pleno domínio sobre o assunto. Na crônica, normalmente, o jornalista toma um viés diferente do que é pregado na mídia, dissecando as diversas ramificações de um mesmo assunto. Mas como disse acima, um jornalista é feito de carne e osso e o cronista também. Será que nunca faltou assunto a Ruy Castro, Nelson Rodrigues ou Rubem Braga? Claro que sim.

Afirmo com veemência que houve dias em que um desses sentou à mesa de sempre para compor e tomou um susto ao perceber que naquele dia não havia nada para dizer, o lápis não mediava nenhum sentimento ou a mais simples das idéias, que fosse.