
Não tenho tempo nem para procurar uma toca.
Ou assistir mais um filme triste.
Minha guitarra me convida todos os dias, mas eu ignoro.
Meus pensamentos fazem o mesmo, mas eu os repudio.
As BR’s não sentem mais o tato dos pneus da minha bicicleta.
E o vento não sente mais o calor da minha pele.
O cantor do rádio não tem mais a minha segunda voz.
E a banda não tem mais o meu arranjo.
As namoradas não têm mais meus beijos.
As amantes não têm mais meu sexo.
As mães fictícias não têm mais meus filhos.
E as casas fictícias não têm mais minha família.
A repartição não tem mais minha demanda.
E as escadas do trabalho não têm mais a sola abatida do meu sapato.
O amor não tem mais seu maior fã.
A paixão não tem mais aquele aventureiro com o qual ela brincava, deitava e rolava.
O céu não tem mais o brilho dos meus olhos admirados.
As árvores não têm mais meu amor pelos seus verdes.
As juras de amor não têm mais seu orador prolixo e eloqüente.
As fábulas felizes não perderam seu criador de outrora.
As coisas não mais me têm.
Eu não me tenho mais.
Já me tive um dia.
Assim como um cigarro, desfiz-me.
Igual fumaça...