terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Psico-Martinho


Subitamente aparece o sentimento de angústia com a cara dos típicos e melancólicos fins de tarde.
“Seria bom se houvesse uma explicação para todo sofrimento, razão de existência, pós-morte etc.” Refletiu.
Mas Martinho acabara de ler aquele livro, Segredo, e, como que de propósito não encontrara o segredo de nenhuma das soluções para seus corriqueiros e importunos psico-problemas. Se é que se pode definir assim a mania de sofrer do dito cujo.
Certa feita, ao prantear copiosamente sobre uma chaleira, ele aumentara em dois dedinhos o nível de água na qual fervia a água do café matinal. Suas manhãs e noites normalmente têm como trilha sonora os soluços de cada choro praticado involuntariamente (é o que ele diz pra ele mesmo). Isso sem falar das ocasiões em que mudava inúmeras vezes de plataforma apenas para tomar outro carro no metrô e ir da Ceilândia à Estação Central e vice-versa, para pensar na vida. Ele considerava um bom ambiente para reflexões, e como se percebe, não é a toa que resolveu estudar filosofia.
Porém, o intra-relacionamento que Friederich Nietzche registrava em alguns de seus manuscritos, não fez nada bem a Martinho. Dos tantos autores que são percorridos pelo jovem, Nietzsch é o preferido, pois as confusões com crises existenciais refletem o pensamento de Martinho. Mas a principal característica que o faz parecer com o ídolo é o talento para levar invariavelmente todos os relacionamentos ao fundo do poço. A prova disso aconteceu em uma de suas tentativas em que uma garota lhe solicitou pequeno um discurso laudatório que resultou em nada mais nada menos do que vinte minutos de profunda reflexão do prisma filosófico sobre o que se deve dizer a uma mulher num início de relacionamento. Ela foi embora e ele nem viu.
Isso o motivou a parar de ler Freud, porque ele só sabia falar de sexo e Martinho (pudera) não achava contexto para inserir as teorias do psicanalista.
E, numa sexta-feira ao rotineirar a sola dos sapatos pela calçada ondulada de uma praça qualquer, teve as pupilas dilatadas pela visão de uma mocinha que usava óculos de leitura e que, não obstante, estava lendo.
O afinco para com aquele livro, não lhe permitiu que percebesse as oito vezes em que Martinho passou a 0,5 km por hora em sua frente na esperança de obter um olhar como ressarcimento. Este só se deu no momento em que, ao continuar caminhando, distraiu-se (hum, sei!) e tropeçou na quina da calçada.
A mocinha deu um sorriso, deixou Schopenhauer sozinho no banco e foi socorrer aquele rapaz supostamente ferido.
Um segundo, dois, três, quatro, cinco e... “Eu te amo!!!”
O silêncio reinou nos segundos precedentes e até que a moça disse: “Muito prazer, meu nome é Mônica você está machucado?”
“Não, a não ser pelas agressões das antologias da negação do eu e os fracassos em tentar ser humano, demasiado humano. (kkkkk)
Ela rapidamente percebeu que as peculiaridades compartilhavam gostos e soltou a sua: “Assim falou Zaratustra e assim eu digo: Não se deve dizer eu te amo logo de cara rapaz. Para um filósofo, contexto nunca é demais!”
Martinho retrucou: “Acontece que a origem da tragédia está na omissão inteira ou parcial dos sentimentos, mesmo que eles apareçam repentinamente, como se pode presenciar”
Apesar do pouco manejo com cantadas e afins, aquela chance caiu do céu, qualquer coisa que saísse, soava de maneira agradável não fugia do contexto filosófico-romântico.
O diálogo prossegue com cantadas que mais parecem defesa de tese de Filosofia. Mas como diz o ditado: “Cada um dá o que tem”
Ele: “Sempre achei que para além do bem e do mal eu encontraria alguém como você!!!
Ela: “Para mim, capital, preço e lucro não importa, e sim o amor, apenas o amor!!!
Ele: “Pensei muito sobre o suicídio, mas nada que um verdadeiro e puro amor não possa reparar”
Ela: “Agora, o ser e o nada são supérfluos, o que importa é nós dois...