segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A música e nós


O guitarrista da minha banda tomou uma decisão. Que me afetou não mais do que a ele.

Como sabemos, a vida é feita de escolhas, suas conseqüências são resultados das somas e subtrações que configuram essas decisões.

Bom, ele estava noivo quando o convidamos para tocar conosco, ele prontamente aceitou a proposta. Mas a noiva do rapaz começou com aquelas crises de possessivos o atacou: “Você escolhe, ou eu ou a música!” A resposta foi quase automática, o guitarrista assinalou a letra “b” na mesma hora e entregou o gabarito. Para terminar ela encerrou: “Tudo bem, então vá para o inferno você e sua música”. Ele não foi para o inferno, mas foi com a gente tocar num show no mesmo dia do fatídico.

Na boa! Isso não entra na minha cabeça (apesar do tamanho dela). Na condição de músico, sei perfeitamente o quanto somos assediados, só que ainda não me jogaram calcinhas nem sutiãs. Isso é normal na nossa profissão, e como observamos acima, essa garota estava insegura quanto à seguinte questão: “Eu não sou essa coisa toda, então se aquele galinha ficar rebolando com a guitarra, alguma piranha mais bonita do que eu vai arrastar a cauda (que ódio)”. É óbvio, ela estava insegura e descontou no camarada exigindo uma decisão um tanto injusta.

Somos músicos e amamos a música assim como podemos amar nossas esposas, namoradas etc. Mas a música será sempre um amor eterno. A música nunca irá pedir divórcio, nem o fim do namoro. A música nunca pedirá para eu largar minha namorada ou esposa, que seja! A música nunca pedirá para ser exclusiva, muito pelo contrário, ela quer ser compartilhada. O egoísmo não faz parte da vida de um músico verdadeiro, está em nós repartir o pão, repartir os sentimentos de cada acorde e dissonância.

A música não é exclusividade nossa e não somos exclusivos dela nem de ninguém, ainda mais de um ser que pode a qualquer momento nos virar as costas.

3 comentários:

Rejane disse...

Realmente, não é nada fácil gostar de um músico bonitinho, sabendo que ele está cheio de menininhas (ou marias-gutarras, microfones ou sei lá o que) doidas para ficarem com o carinha da banda, só para contar às amigas.
Porém, onde há amor há confiança.
Apesar de não me encaixar perfeitamente no mesmo posto que a dita cuja aí, posso me colocar no lugar dela.
Afinal, também gosto de um músico que por sinal, é da mesma banda.
A diferença é que entre eu e ele há um amor verdadeiro. Sei, muito bem, que não posso (nem quero) competir com a música.
São amores lindos, mas são amores diferentes.
E não há prova maior de amor que torcer para que os sonhos de quem se ama, sejam realizados. Mesmo que isso o afaste do ser amado.
(Peço perdão pelas palavras desencontradas. Mas hoje escrevi com o coração, sem refletir demais, nem medir minhas palavras).

Francisco de Assis disse...

Batuque de ponta do dedo
rabo-de-saia e samba-canção
felicidade de vagabundo
é caixa de fósforo e violão

Enquanto isso Maria tá em casa
sem cuica e lavando cueca
se matando na beira do forno
sem ganhar nenhuma merreca

Você bamba cheio das "nega"
bebendo no samba em porta de bar
nem se lembra que é casado
nem se importa com a hora de voltar

Mas quando chega quer ter razão
conta que tava em roda de amigos
diz pra Maria ficar de boca fechada
casa de homem quem manda é marido

Maria então lhe pede a escolha:
-a roda de samba ou eu
e você orgulhoso responde
Que fica com o samba,que o samba é de Deus

O tempo se passa na avenida
o carnaval termina e vem a solidão
Maria achou quem lhe desse valor
Pra você sobrou a quarta de cinzas

Que Maria quebrou o violão.

Jean-Pierre Barakat disse...

Um belo texto, profundo, autêntico e sincero. Nada de mais natural que reconhecer na música aquele constante cortejo que alimenta as sementes de um sonho.