sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Amor em Cíanos


A cidade resplandecia em tons de azul com verossimidades de cíano de tão suave que era sua cor. Os amores uniam-se nos banquinhos branquinhos da praça bem iluminada. E o vendedor de rosas atendia à demanda.

Quando as mãos se uniam, concomitantemente a respiração aumentava e paulatinamente os batimentos do coração aumentavam. Os pensamentos dedicam-se a fabricar frasezinhas românticas e de impacto. E o amor aumentava. (Quanta redundância!)

Pode-se observar de longe os coraçoezinhos vermelhos flutuando por entre os pares de rostos apaixonados. A essa altura o cupido já está gastando quase que a última de suas infalíveis flechas na praça que fica no bairro ao lado.

Até que ela vence pela insistência, a primeira gota de lágrima não pode ser contida, e as posteriores também não. Ele a consola com um abraço, daqueles que lhe envolve a dor e toma para si. Ela se sente melhor, mas apenas o abraço não é suficiente para mitigar a dor de Marina.

"São apenas dois meses, só mais dois meses". Marina sofria de câncer, lhe restavam apenas dois meses de vida, e isso lhe confrangia o coração, pois há três semanas conhecera Luciano - seu grande amor.

"Serão dois meses de intenso amor, tenha certeza!" Exclamou Luciano, que passou a passar as noites com Marina na inspiradora praça, rendendo-lhe discursos laudatórios e juras de amor. Porém, o tempo não lhes perdoara e cumpriu sua parte, passou e passou.

Luciano dedicava-se o dia todo a pensar na amada que partiria. Já não se concentrava mais no trabalho, as notas da faculdade caíram, também emagrecera cerca de oito quilos.

Marina já não pode mais ir à praça. Agora, a UTI lhe é abrigo, é também de Luciano, o qual não levanta dali um minuto sequer. Fica ao pé da cama observando-a pormenorizadamente. E beija-lhe de cinco em cinco minutos. Até que os médicos observam... e pedem que Luciano os deixem à sós com Marina. Este reluta, mas entende que é necessário. Luciano deixa a sala, mas espera na porta juntamente com a família da moça.

"Ehhh, infelizmente..." Luciano não espera o médico encerrar o veredicto e desesperadamente invade a sala aos prantos e abraça o corpo de Marina. Ninguém o tira dali. A não ser quando o corpo é recolhido para ser preparado para o velório.

Luciano não compareceu ao velório, nem ao enterro. Foi um pedido de Marina, que só queria a presença de Luciano enquanto ela estivesse presente. Em vida. O pedido de Marina foi respeitado pelo amado, que, agora, tenta (inutilmente) não pensar nos bancos brancos que outrora foram palco do maior amor vivido em todos os tempos.

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